brunomfsantos

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Solos pré-definidos vs solos improvisados

Não é óbvio o limite entre o que é um solo totalmente improvisado e o que já vem trabalhado de casa.
No entanto há uma diferença grande entre um solo pré-definido, quase compor uma melodia, memorizá-la e tocá-la. Isso será mais uma composição do que uma improvisação. Mesmo assim quando é preciso tocar determinado tema muitas vezes temos tempo e necessidade de prepará-lo em casa.
Tocar durante algum tempo sobre aquela progressão de acordes para nos habituarmos a ouvi-la; decifrar a harmonia, vendo possibilidades de escala, etc. ; tocar só pequenas parcelas da progressão, as mais complexas. Enfim, estudar o tema para descobrir caminhos por onde posso ir quando improviso.
No entanto acho que a improvisação deve ser isso mesmo, tentar criar algo no momento independentemente de já ter passado horas e horas a tocar aqueles acordes.
Às vezes acontece sair algo que já saiu durante o estudo, acho que isso não é enganador, simplesmente habituei-me a tocar determinada melodia ou determinadas notas quando ouço determinado acorde.
Há outra abordagem menos honesta que será fazer do solo uma colecção de "malhas" que foram preparadas ou copiadas, fazendo com que soe a isso mesmo uma data de pequenas melodias coladas mas sem grande lógica e fluidez.
De qualquer maneira acho que isso poderá fazer parte de um processo inicial de um músico que está a adquirir linguagem, quase como aprender o abc.
A abordagem mais honesta continuo a achar que é a procura no momento sem ceder à "malha" x que eu sei que resulta. No meu ponto de vista considero relativamente desonesta essa abordagem.
Habituei-me a admirar músicos que tocam assim e pensam assim. Assumem o risco mas serão sempre mais surpreendentes e prendem mais a minha atenção como ouvinte. Isso não implica que outros não sejam competentes apesar da abordagem menos instintiva e mais racional e pré-fabricada.
No entanto, se estamos a falar de música improvisada acho que esse é um verdadeiro desafio, e por estranho que possa parecer é uma abordagem que se pratica e estuda.
Não é fácil, mas nada é fácil quando procuramos um determinado nível. Há excepções!

A influência da bossa nova

A bossanova teve grande influência no meu trajecto desde o rock até ao jazz. Quando comecei a ter algumas aulas de guitarra e de música ainda na Madeira, foram-me apresentados alguns acordes e sons que eu nunca tinha ouvido.
Ao princípio o facto de tocar aqueles acordes era mais um desafio e aquela coisa de fazer algo mais difícil e pouco usual. Poder chegar à escola e mostrar a um outro guitarrista um acorde “estranho”, mais no aspecto físico do que propriamente ser algo estranho de se gostar e ouvir.
Aos poucos fui habituando-me àquele som e fui aprendendo cada vez mais temas brasileiros, especialmente do grande compositor Tom Jobim. Impressionava-me a fluência e lógica da passagem de um acorde para o outro. Soava-me tudo lógico e incrivelmente musical, parecia que o acorde que vinha a seguir tinha de ser aquele, não cabia mais nenhum.
A pouco e pouco passei a adorar a música do grande Jobim, ainda o considero um dos maiores compositor de sempre. A maneira como construía melodias sobre progressões de acordes simples e o modo como construías outras melodias sobre progressões menos óbvias são, acho eu, a sua imagem de marca. O bom gosto e classe são os seus maiores atributos.
Ouvi muitas outras coisas, especialmente João Gilberto que era um grande interprete de temas de Jobim e de outros compositores brasileiros. A maneira como combinava o violão e a voz é incrível. Alto sentido melódico e também muito bom gosto na maneira como tocava e cantava.
Ouvi Vinicius, Toquinho, Chico Buarque e outros dessa altura. Foi a partir dai que me interessei pelo jazz devido às muitas semelhanças entre os 2 mundos.
A maneira como Jobim escrevia é muito semelhante ao que faziam grandes compositores dos clássicos americanos. É natural, porque esses compositores eram a grande influência da época.
Continuo a ter grande gozo em tocar e ouvir muita música brasileira, em especial a música de Tom Jobim e foi sem dúvida uma das razões que me levaram ser músico profissional.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Melodia num solo

No que toca à improvisação ou ao solo, acho que se deve sempre ter em conta a tentativa de construir uma bola melodia. À partida aquilo que nos leva a escolher determinado tema para incluir no nosso repertório, será a melodia que nos faz gostar do tema.
Essa não é a única razão mas uma das principais e provavelmente a fundamental.
Um solo poderá ser visto como uma composição em tempo real, sem grande margem de erro e de tempo para a construir, duma melodia. O conceito de uma boa melodia obviamente é difícil de classificar mas acho que é algo que se ouve e se sente.
Há vários tipos de abordagem ao solo e diferentes estilos de solistas, uns com mais informação que outros, uns com mais tensão que outros, enfim há muitas diferenças de músico para músico.
No entanto acho que um princípio básico é que mesmo com pouca informação deve haver a preocupação de construir algo lógico e melódico desde o princípio. Um solo com sentido melódico. Nem sempre é isso que se ouve, às vezes sente-se um pouco aquela sensação de "fala muito mas diz pouco".
O solo deverá ser sempre uma procura genuina e verdadeira por uma boa melodia ou várias boas ideias melódicas, não se deve resumir a um debitar de notas sem sentido e a um puro exercício de técnica ou força (depende do instrumento!).
Muitas vezes ouço músicos com técnica avassaladora mas que ao mesmo tempo, e pode parecer um paradoxo, têm pouco controle sobre aquilo que estão a tocar.
Isso não siginifica que muita técnica seja o oposto de tocar com sentimento. É quase como ligar um piloto automático e deixar andar, deixar andar no mau sentido.
No entanto nem sempre é fácil definir o que é um solo melódico mas acredito que será um solo que chegará à grande maioria de quem o ouve.
Um solo que chegue e que fique.

Liderança num grupo

Tocar num grupo e ser líder traz uma responsabilidade acrescida, nem que seja pelo facto de sermos os principais responsáveis pelo que acontece. De bom e de mau. Não será exactamente assim mas quase.
Queremos sempre que as coisas corram na perfeição e estamos demasiadas vezes preocupados com vários aspectos. Há mais tensão acumulada. No entanto quando tudo corre bem acho que há um gozo maior por as coisas terem saído bem no nosso grupo.
Falando da minha experiência como líder de 2 projectos (o meu 4to e o meu novo trio), senti várias vezes isso na pele. O desgaste é bem maior, porque além dos concertos há que preparar a música, combinar os ensaios. Isto pode nos tirar várias horas e "litros" de suor!
Ser um bom líder também não é algo que se consiga facilmente, há sempre dúvidas. Será que nos seguem por sermos quem manda? Ou será que nos seguem por confiarem? No meu caso e mesmo nos meus grupos gosto sempre de saber o que pensam os restantes membros.
Aliás, ser líder não significa mandar mas sim assumir a responsabilidade. É assim que eu tento dirigir os meus grupos. Preparo a música, penso no que quero na música, o resto vamos fazendo em conjunto.
Ser líder não implica ter o holofote apontado para nós no grupo, pelo menos não na minha maneira de ver a coisa. Querer ter excessivo protagonismo por sermos líderes de um grupo não é provavelmente a maneira mais intelegente de pôr o grupo a soar.
Por outro lado e tocando noutros projectos em que toco como membro integrante do grupo, torna-se um pouco mais relaxado. Não quer dizer que se facilite mas só temos de nos preocupar com a nossa parte e em fazer o melhor. Concentração focada só na música.
Por vezes e devido à dificuldade da música que tocamos, tocar noutro projecto pode ser muito mais "doloroso" do que no nosso projecto. Mas por diferentes razões, pela dificuldade da nossa parte ou pela dificuldade de tocar em grupo com outros músicos com quem se tenha menos entendimento e afinidade musical.
Como conclusão deixo só a ideia que liderar um grupo é assumir a responsabilidade e pôr a música ao dispor dos músicos. Deixá-los dar o seu contributo. Nunca usar os músicos e a música para garantir protagonismo. Penso eu...

O som do instrumento

Na minha opinião, o som é também (tal como o tempo) dos aspectos mais importantes de um músico. Acho que deve ser tão trabalhado como qualquer aspecto técnico.
Quando falo de bom som, não implica necessariamente que se esteja a falar de um instrumento topo de gama, falo do som individual, som de dedos. Quantas vezes já ouvimos o mesmo instrumento soar de maneira diferente quando passa para outra pessoa. Muitas, certamente. Eu sei que já ouvi.
Algumas vezes o mau som não é só culpa do músico, especialmente quando está amplificado fora do controle do mesmo, como por exemplo em grandes salas onde o som tem de passar para o exterior por colunas, cabos e mais colunas! Mesmo nessas situações acho que é quase sempre perceptível quando a culpa é ou não de quem toca.
Uma das razões que me levam a gostar menos de alguns guitarristas antigos tem a ver com algum descuido no som e não tem necessariamente a ver com a qualidade de gravação.
Acho que até uma determinada altura os guitarristas são pouco rigorosos no som, o mesmo não se nota noutros instrumentos. Há excepções como é óbvio e muitas. Mas nota-se claramente que a guitarra e os guitarristas evoluiram muito nesse sentido.
Um grande som passa muito pelos dedos, não só por se ter o melhor instrumento. No entanto um grande som não implica um excesso de volume, esse é um problema e defeito de alguns e não só dos guitarristas!
A guitarra pode ser um instrumento agressivo quando mal tocada (falo de som e excesso de volume e não de execução técnica), um pouco como o trompete que tocado sem controle é muito duro de se ouvir!
Como conclusão acho apenas que a qualidade do som deverá ser uma preocupação fundamental de qualquer músico. Vital mesmo.
A procura de um som redondo e agradável é fundamental e poderá fazer toda a diferença. Na minha modesta opinião!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Influência de outros instrumentos

Quando comecei a tocar guitarra aquilo que me prendia a atenção em qualquer grupo, era a guitarra. Passado algum tempo comecei a interessar-me em ouvir o baixo e a bateria, especialmente estes 2.
Tocava essencialmente rock na altura e estes instrumentos eram os mais importantes. Quando comecei a ouvir os 1ºs acordes da bossa nova, continuei a ouvir e redescobrir a guitarra mas comecei a ouvir também o piano de Jobim e outros.
Na fase em que me interessei mais a sério pelo jazz conheci: Miles Davis, John Coltrane, Wes Montgomery, Ray Brown e tantos outros, e de repente passei a ouvir outros instrumentos muito mais que a guitarra. No jazz as minhas principais influências não passam necessariamente só pela guitarra e guitarristas.
Colocaria talvez 5/10 guitarristas numa lista dos meus 100 músicos favoritos (se é que é possível fazer uma lista dessas!). O saxofone, trompete, piano, contrabaixo tiveram a mesma ou maior importância do que a guitarra.
A maneira de tocar, a abordagem às notas, o tempo, a articulação, é tudo muito diferente do que aquilo que tinha ouvido.
Há muitos músicos de variados instrumentos que me marcaram e marcam, e acho muito interessante ouvir outros instrumentos (tal como outros estilos musicais) e aplicá-los na guitarra (no meu caso).
Faz pensar um pouco no instrumento de maneira diferente, acho que dá uma visão mais gobal da música e não tão particular de um só instrumento.
No entanto houve e há guitarristas excepcionais que foram grandes influências (Wes Montgomery, Jim Hall e outros).
Como conclusão acho que vale muito a pena ouvir outros instrumentos e tentar aplicar aquilo que se ouve seja em que instrumento for, uma espécie de adaptação de um instrumento para o outro.

O pulsar do grupo

Quanto mais toco mais sinto que o tempo é provavelmente o aspecto mais importante da música. Não tenho certeza absoluta mas quase! Talvez mais do que tocar as notas certas, exagerando um pouco. Ou talvez não...
Durante alguns anos estudei com metronome, que é uma boa ajuda e é algo que nos obriga a ter disciplina e fundamentalmente a respeitar um tempo instalado. Isto porque muitas vezes no nosso estudo diário não nos obrigamos a isso.
Cheguei à conclusão que estudar sem a muleta do metronome seria imprescindível, já que o tempo tem que ser algo que se sente naturalmente. Sem "muletas".
No entanto quando se toca em grupo ou com mais alguém é fundamental que todos sintam e respirem o tempo da mesma maneira. Só há uma maneira de se conseguir atingir tal fim, é estando constantemente a ouvir o que o resto do grupo faz.
Sentir o pulsar do grupo. Dependendo dos vários tipos de abordagem que um grupo possa ter, marcar o tempo claramente ou tocar mais espaçado e aberto, é imprescindível que se chegue a um consenso para sentir o tempo como um único para o grupo todo.
É óbvio que o princípio fundamental é que todos tenham boa noção desse mesmo tempo, senão é mais complicado. Quanto maior o grupo mais difícil arranjar ou sentir um tempo comum a todos.
Por muito boa noção de tempo individual que todos tenham há sempre um milésimo que difere de músico para músico, é ai que entra a importância de tentar irmos todos ao encontro uns dos outros. É algo que já referi antes no conceito de tocar em grupo.
Quando tocamos com mais alguém é preciso tocar colectivamente em todos os aspectos. Na questão do tempo, por ter alguma flexibilidade, isso torna-se fundamental para o grupo funcionar.
É outro aspecto da música que tem também mais a ver com a parte mental do que fisica. Mas sem dúvida que é possivelmente o aspecto mais importante da música. Até nas pausas, há músicos com um respirar e tempo que fazem toda a diferença.